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Formação Pedagógica

 

Caro educador

 

Com objetivo de refletir sobre o início do ano e as expectativas que envolvem  o  recomeço das atividades letivas, enviamos um texto para reflexão

 

Equipe de Assessoria Pedagógica

Editoras Ática e Scipione

 

O lobo da Meia-Lua

 

Era uma vez uma jovem mulher que vivia numa floresta. Seu marido esteve fora, lutando na guerra, muitos anos. Quando ele afinal foi liberado, voltou para casa com o pior dos humores. Ele só queria ficar só e permanecia na floresta tanto de dia quanto à noite. Estava tão furioso que ela sentiu medo. E afinal, em desespero, ela foi procurar a gruta da curandeira que morava fora da aldeia e lhe pediu para curar o marido.

— Isso eu posso fazer por você — assegurou-lhe a curandeira. — Mas vou precisar de um ingrediente especial. Por isso, você deve subir a montanha encontrar o Lobo Meia-lua e me trazer um único pelo brilhante que ele tem no pescoço. Depois, eu lhe darei o que você precisa, e a vida voltará a ser boa.

Algumas mulheres teriam se sentido desencorajadas com essa tarefa. Algumas teriam considerado que todo esse esforço era impossível. Mas não ela, pois ela era uma mulher que amava. E, assim, ela conseguiu atravessar a floresta e começou a subir a montanha.

Ela procurou o Lobo da Meia-lua dias e dias, até que não precisou procurar mais, pois escutou um grande uivo. A mulher colocou uma tigela de comida e voltou correndo para o seu esconderijo. O urso sentiu o cheiro da comida e saiu cambaleando da toca, rugindo tão alto que pequenas pedras se soltaram do lugar. O lobo sentiu o cheiro da comida, aproximou-se,  comeu tudo de uma só vez e sumiu.

Na noite seguinte, a mulher agiu da mesma forma, servindo o alimento na tigela. Isso continuou por muitas e muitas noites até que numa noite escura a mulher sentiu ter coragem suficiente para esperar ainda mais perto do lobo.

Quando o lobo saiu da toca, a mulher tremia, mas não recuava, pois era uma mulher que amava. O lobo uivou alto. Mesmo assim, ela não saiu correndo. Ela não era uma mulher de desistir, ela era uma mulher que amava, que lutava por seu sonho.

O lobo uivou ainda mais. A mulher tremia, mas conseguiu falar, pois era uma mulher que amava.

— Por favor, meu querido lobo  — implorou ela. — Venci  toda essa distância em busca de uma cura para meu marido. Venho lhe trazendo alimento todas as noites. Será que eu podia ficar com o pelo brilhante do seu pescoço?

— É verdade — disse o Lobo da Meia-lua. Você foi boa para mim. Arranque o pelo rápido e vá embora.

O lobo deu um último uivo para que aparecesse o pelo brilhante. A mulher rapidamente o arrancou. O lobo uivou para a mulher como se dissesse algo. Ela desceu a montanha, correu, passou por obstáculos, se feriu nos arbustos e chegou, toda desalinhada e suja, diante da curandeira. Seus olhos brilhavam.

— Olhe! Olhe! Consegui, encontrei, conquistei um pelo do lobo Meia-lua! — gritou a jovem mulher que amava.

— Que bom — disse a curandeira com um sorriso. Ela examinou a mulher atentamente, pegou o pelo e exclamou — Este é um autêntico pelo brilhante do lobo Meia-lua!

 De repente, porém, ela se voltou e lançou o pelo no meio do fogo, onde ele estalou, pipocou e se consumiu numa bela chama laranja.

— Não — gritou a mulher.

— Fique calma. Tudo está tudo bem — disse a curandeira. — Você se lembra de cada passo que deu para escalar a montanha? Você se lembra de cada passo que deu para conquistar a confiança do lobo? Você se lembra do que viu, do que ouviu, do que sentiu e do que aprendeu?

— Lembro — disse a mulher. — Lembro-me muito bem.

— Então você já sabe como trazer seu marido de volta. Vá para casa com seus novos conhecimentos.

 

 

Adaptação Mulheres Que Correm Com Os Lobos

Mitos e Histórias do Arquétipos da Mulher Selvagem

Clarissa Pinkola Estés - Editora Rocco

In Proposta Didática para Alfabetizar Letrando, 2009

 

 

 

 

Uma pausa para reflexão: um silêncio necessário...

Para o trabalho com o texto sugerimos as seguintes questões:

 

  1. Em que medida o professor é “a mulher que ama” do texto acima?

Se se parece com ela, qual o objeto desse amor?  O aluno? A Profissão? O conhecimento?

·         Será que amamos nossos alunos? O que significa amar o aluno?

Na verdade, sabemos que temos sim amor por nossos alunos, mas temos também que ter a consciência de que este amor exige ser traduzido, prioritariamente,  pelo respeito ao direito que ele tem de aprender. Portanto, é um amor que pede dedicação, atenção e a competência do professor para ensinar de modo que todos os alunos aprendam ou pelo menos não percam a possibilidade de um dia virem a aprender na vida.

Portanto, amar nossos alunos é cumprir a nossa função maior como professores, que é a de ser um bom mediador do conhecimento e da aprendizagem.

·         E o que é amar a profissão?

É antes de tudo ser um professor competente.

E o que quer dizer ser um professor competente?

É aquele capaz de conhecer seus alunos, conhecer os conteúdos, conhecer os modos de ensinar para que o aluno, de fato, compreenda e aprenda. É aquele profissional que sempre busca saber mais e melhor sobre seu ofício. É aquele professor que investe tempo e energia e muitas horas de dedicação para dar sentido ao “amor” que sente pelo conhecimento, pela profissão e pelo aluno.

  1. Utilizando a analogia dos desafios superados pela “mulher que ama”, quais os desafios do professor?

Elencamos aqui os principais desafios  apontados por professores em pesquisas recentes. Levante com seu grupo os desafios da sua escola e busquem juntos soluções compatíveis a sua realidade. Vejam abaixo o exemplo:

Desafio

Soluções

Ter o máximo de competência e domínio de sua função

 

a)      Investir em cursos de formação?

b)      Estudar mais?

c)      Planejar melhor as aulas?

·         O que mais?

 

Conviver com a indisciplina e com a atenção fugaz e dispersiva da atualidade

 

d)     Se aproximar dos alunos e conhecer as causas de sua dispersão?

e)      Propor projetos bem estruturados e criativos?

·         O que mais?

Adaptar-se às novas linguagens e meios, apropriar-se delas e oferecer sentido à utilização delas no processo de aprendizagem

 

f)       Estudar e conhecer melhor as mídias e recursos digitais?

g)      Trazer o aluno “um nativo digital” para colaborar com você e propor trabalhos em parceria?

·         O que mais?

 

Oferecer o conhecimento como alimento,  e estimular o questionamento como a fome

  1. A “mulher que ama” conquista seus objetivos. Retorna  à aldeia desalinhada, suja, mas com brilho no olhar

·         Pergunte como cada professor se sente no dia-a-dia no exercício de sua função. Mostre-se acolhedor às dúvidas e angústias de forma bastante positiva. Como gestor, você conhece seu grupo de professores e dificuldades de cada um. Prepare-se antecipadamente no sentido de propor a construção de soluções para os principais desafios que eles têm enfrentado na atualidade:

-        ajustar horários e tarefas,

-        propor a valorização do tempo de duração de cada aula, iniciando e terminado as aulas no horário certo, evitando com isto a dispersão dos alunos e a dificuldade de organização e cumprimento das regras. O professor deve ser o primeiro a dar o exemplo

-        valorização do espaço escolar por meio do uso adequado e atualizado dos murais, dos materiais, dos livros etc.

-        elencar maneiras de viabilizar a aproximação das famílias, engajar o grupo, promover trocas e momentos de descontração,

 

  1. “Ver, ouvir, sentir, aprender...” estimule o grupo a refletir sobre a atenção em relação a si e ao outro (aluno). O que “a mulher, que ama” viu, sentiu, aprendeu? Por que ela está pronta para trazer seu marido de volta? O que o professor vê, ouve, sente e aprende no seu dia-a-dia de modo a “trazer seu aluno de volta”?
  2. Proponha que cada professor faça o exercício de olhar seu planejamento a cada dia e propor metas, respondendo à pergunta:

·         O que eu quero que meu aluno aprenda hoje?

Proponha também que, ao final de cada dia,  o profissional faça o exercício de refletir sobre as metas estabelecidas e sobre sua experiência profissional:

·         o que aprendeu? 

·         o que falta fazer?

·         o que deve ser repetido?

·         o que deve ser transformado?

  1. Encerre fazendo uma analogia entre o pelo brilhante do lobo Meia-lua e aquilo que cada aluno tem de melhor e único. É diante do brilho do olhar de quem aprende e se viu capaz de construir seu próprio conhecimento que o professor se fortalece e se reafirma profissional e pessoalmente!

 

Tenham um ótimo ano letivo!

Para completar a reflexão e relacioná-la com o uso de novas tecnologias segue o link de um vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=mKbEbKQZVQU&feature=youtu.be

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